Nesta tristeza está uma espécie de felicidade em ter a sorte de ter vivido tudo isto.

Quem diz que as primeiras vezes nunca se esquecem, esquece-se de que são as últimas as mais marcantes. Principalmente para quem as vive a saber que é a última vez.

Semana Académica 2023. Para muitos a primeira, para tantos a última. Para mim, a última, pelo menos nesta cidade e neste contexto. Sou finalista! Nunca disse estas palavras em voz alta porque não as quero tornar reais. Mas foi real. Ser finalista tem o peso da responsabilidade, mas, ao mesmo tempo, de missão cumprida e de despreocupação. “Está feito!”  – Dizíamos. Mas estará?

A semana começou já a desvendar o que seriam os próximos dias – caos, emoção, choro, riso e cerveja. Quinta-feira e o último Jantar de Curso. Todos bem trajados, uns pela primeira vez, alguns pela segunda e outros pela última nesta ocasião. Ponto de encontro marcado para as sete da tarde e eu a adiar o mais que conseguia. Queria adiar o inevitável porque sabia que a noite ia ser difícil a nível emocional e não estava pronta para isso. Saí de casa já em lágrimas que os olhos não conseguiam secar. Ver os caloiros vestidos como eu onde, até então, apenas lhes conhecia roupa de praxe, foi de uma alegria gigante! Cantávamos hinos de curso e músicas de despedida nos braços uns dos outros, dizíamos o que nunca dissemos depois de vários brindes e ríamos com histórias passadas.

Mas a noite ainda tinha muito para contar. Seguiu-se a Serenata e o traçar das capas que são do mais bonito e triste que vivi. A banda sonora é saudade ao som de guitarras melancólicas acompanhadas de vozes desalentadas. Lágrimas derramadas, palavras e abraços sentidos. Ruas pintadas de negro, capas velhas com história estendidas no chão e capas novas limpas de vida. Doíam-me os joelhos e as costas, mas o coração cheio desviava as atenções à dor. Mais uma missão cumprida! Os meus afilhados estão crescidos, orientados e traçados. O meu trabalho aqui está feito e não lhes fica nada por dizer. “É injusto, não vás embora…” Vou, mas prometo cá voltar.

E a cidade cheia, de repente, ficou vazia. Deitei-me no paralelo frio numa rua paralela, tirei os sapatos e fiquei no silêncio de quem partilhava o mesmo sentimento que eu. Naquela tristeza estava uma espécie de felicidade em ter a sorte de ter vivido tudo aquilo. “Limpa as lágrimas que ainda vamos à tenda!”

Ah… a tenda! Depois do choro vêm os risos e os trocos mal dados. Trabalhar na barraca líder de audiências e fazer com que os “utadinos” dissessem “Assim” era o que mais me motivava a fazer aquele longo caminho – deve ser a única coisa que desejo ter feito pela última vez! Queixei-me do cartaz, mas nem o vi no palco. Chegava a más horas e saía a piores. Corria o recinto e encontrava os melhores sorrisos e abraços. Dançava!

 

E veio o nosso dia, Finalistas! Domingo, dia de Queima das Fitas e da Bênção das Pastas é lidar com a falta de sono num dia que exige a nossa melhor cara. Acordar atrasada e assistir à demorada missa à espera do momento em que se levantavam as pastas cheias de fitas com desejos e expectativas. É ver a minha mãe a conhecer as personagens reais da história que lhe contei ao longo de três anos. É trazer amigos a perceber a minha vida aqui. É sentir o orgulho do meu irmão por mim e achar que não o mereço. É a cartola, a bengala, as pessoas, o ramo, o bolo, o traje, as fitas, a roseta, o laço, o cansaço, o choro, as fotos, o dar e receber atenção. Acho que não vivi esse dia, sabem? Passou-me ao lado, mas foi arrebatador.

E a cidade cheia, de repente, ficou vazia. Deitei-me na relva do fundo da Avenida, tirei os sapatos e parei no silêncio de quem partilhava o mesmo sentimento que eu. E fomos para a tenda.

Dia 25 de abril teve sabor a liberdade e a cerveja. Acordo já com o barulho dos camiões prontos a partir e a música de quem, em cima deles, dançava. Curso a curso, copo a copo, o Cortejo Académico passeia pelas ruas da cidade que é de todos. Vaidosos, a vestir, literalmente, as cores do curso, com o orgulho que tantas vezes omitimos. Na fonte da Avenida cantávamos o hino com a garra que sabemos ter. A água no ar como confettis e a partilha de risos cúmplices e espontâneos. Foi bonito!

 

 

 

 

 

Vivi estes dias como se não tivesse direito a eles. Mas eu vazia, de repente, fiquei cheia. Cheguei a casa, tirei os sapatos e fiquei no silêncio. Percebi que o melhor é só fazer sentido com as pessoas que mais sentido me deram. Porque a vida é toda sobre pessoas.

Foi uma semana passada com uma sensação estranha, porque se ontem estávamos a chorar de saudade uns pelos outros, hoje estamos apáticos na mesma sala de aula. Se ontem parecia estar a acabar, hoje sei que estes abraços não foram dados, certamente, pela última vez. Ainda bem!

Agora vou a casa dormir, comer e lavar roupa para segunda-feira voltar à vida. É que a festa está feita e sou Finalista, mas ainda não sou formada. Desejem-me sorte e, só depois, deem-me os parabéns. Mas obrigada!