“The Great Gig in the Sky”, do albúm “The Dark Side of the Moon”, dos Pink Floyd, tornou-se num dos maiores sucessos da música rock de sempre. Este uivo arrepiante na forma de canção transcendeu décadas e gerações; sobreviveu às luzes brilhantes das salas de disco do final dos anos 70, ao Glam metal caótico dos anos 80 e até ao grunge revolucionário dos anos 90. E 52 anos depois, o mistério e a incógnita por detrás de uma das mais famosas faixas sonoras da história do rock continua a atrair a curiosidade de milhões de ouvintes.

Em meados dos anos 60 do século passado, Londres foi berço de uma das bandas mais famosas da história da música mundial. Foi nessa cidade que nasceu Pink Floyd. Ofereceram ao mundo um universo sonoro que ia além do rock já existente; pegaram no psicadélico e no experimentalismo e estabeleceram-se como banda, num ambiente já dominado por grandes nomes como os The Beatles, Rolling Stones ou até Led Zepplin. Mesmo com o palco cheio, David Gilmour, Nick Mason, Roger Waters e Richard Wright conseguiram ter a atenção dos holofotes. E do público que até hoje não os deixa às escuras.

Foi a 1 de Março de 1973 que “The Dark Side of the Moon” chegou às mãos do grande público, explorando temas como a ganância, a morte e até a loucura. O álbum conta com 10 faixas e uma duração de 42 minutos e engloba em si canções emblemáticas como “Breath (In the Air)” e “Time”. Foi tão aclamado que se manteve no US Billboard Charts durante 741 semanas, o que equivale a 14 anos. Mas uma das músicas que conseguiu captar grande parte da atenção do público não conta sequer com uma palavra.  “The Great Gig in the Sky” é esta canção, que continua envolta numa nuvem psicadélica de mistério, polémica e segredos.

Pink Floyd queria uma voz feminina para este track que finalizava o lado um de “The Dark Side of the Moon” e por isso, o engenheiro de som, Allan Parsons sugeriu à banda uma desconhecida jovem vocalista da cena rock de Londres. Esta indicação foi o suficiente para que a voz de Clare Torry se desse a ouvir ao mundo numa canção que mudaria a trajetória da banda para sempre e a poria debaixo dos holofotes.

A banda pediu à então jovem Torry, de apenas 25 anos, para pensar sobre a morte e o terror e a partir daí improvisar como bem lhe apetecesse. Afinal, não havia letra a prender o rumo da sua voz. Foram só precisas duas gravações e 30 libras para que o timbre de Torry convencesse a banda. Mesmo assim, a jovem acreditou que a sua voz nunca seria usada no corte final do álbum. Mas, levados pela sua voz assombrosamente emocionante, a banda incluiu a canção na lista final. A jovem só descobriu este facto, quando, ao ir comprar o álbum, viu o seu nome nos créditos.

A canção ressoou logo com o público. A voz de Torry viaja entre uivos e gritos, notas de dor e de sensualidade, invocando terror, paz, assombração e um sentimento cada vez mais profundo, que puxa para dentro de si quem escuta para lá da ausência de letra. É uma libertação visceral, carregada de sentimento. A voz, sem dizer uma única palavra, torna-se no instrumento principal. A introdução em órgão, o crescendo quase vertiginoso e a sensação de se estar a caminhar para algo desconhecido precedem a voz de Torry que, quando rebenta no ponto mais alto da canção, desprende o ouvinte de si mesmo. É uma viagem psicadélica que põe o coração a bater mais depressa, o sangue a correr mais veloz e, quando acaba, deixa, no ser, o vazio depois da queda.

Há quem diga que foram as 30 libras mais bem gastas da história do rock.