Frank Ocean – A voz que transformou a dor em arte
No universo musical e confessional de Frank Ocean, cada canção é uma história que mais do que ser ouvida deve ser sentida.
Em 2012, o artista norte-americano lançou o álbum Channel Orange, uma das obras mais marcantes da sua carreira num projeto que mudou a era contemporânea do R&B, ganhando o Grammy de melhor álbum Urbano Contemporâneo.
Cada música é como um capítulo de um diário onde a solidão, a identidade, o amor e a religião entram em conflito. Pyramids, Thinkin Bout You e a emblemática Bad Religion são alguns dos temas mais marcantes que podem ser encontrados neste álbum, mas é para esta última que o foco se direciona, desta vez.
Bad Religion é uma história que explora e retrata o sentimento de se amar alguém que não retribui da mesma forma.
O enredo começa com Frank Ocean a confessar que precisa de alguém que o ouça e por isso, embarca numa viagem de táxi, sem destino.
“Taxi driver
Be my shrink for the hour
Leave the meter running.”
O compositor transforma assim, o táxi, num espaço de confessionário com alguém passageiro que não se lembrara da sua cara ou, até mesmo, da sua história.
Tal como o título sugere, Bad Religion é também uma metáfora. O cantor compara o amor não correspondido a um culto, à ação de estar condicionado a uma crença cega que prende e consome.
“Oh, unrequited love
To me, it’s nothing but a one-man cult.”
Frank Ocean revela o lado auto-destrutivo e obssessivo de se amar alguém que nunca irá retribuir o sentimento, tal como, um fiel molda a sua vida nas regras de uma fé.
A genialidade deste tema é também marcada pela capacidade de transmitir a dor deste tipo de amor. E por isso, toda a música é construída num fundo sereno que nos relembra uma melodia religiosa em contraste com o desespero na voz e palavras do cantor, sem refrão, como se realmente se tratasse de uma conversa entre o ouvinte e Frank Ocean.
“I can never make him love me
Never make him love me
Love me, love me
Love me, love me
Love me, love me
Love me, love me.”
A luta interna de Frank passa em reconhecer que o amor é algo natural, que não pode ser forçado ou imposto, seguido pela repetição do pedido de ser amado como se estivesse prisioneiro do sentimento.
O poder desse momento está justamente na sua simplicidade. Sem grandes arranjos nem explosão de som, apenas a voz e o vazio entre as palavras.
É nesse vazio que mora o impacto.
Mais do que uma música sobre amor e dor, Bad Religion é uma lufada de honestidade brutal. É sobre como o amor pode, ao mesmo tempo, salvar e destruir. E é o dom de Frank que torna possível transformar a vulnerabilidade em arte e a dor em beleza.
Talvez seja por isso que após uma década, Bad Religion continua a ser uma oração para todos aqueles que já amaram demais e encontraram na música conforto.