Hugo Carvalho dos Santos realizou um estudo sobre as memórias clandestinas da aldeia raiana de Tourém. O aluno do Mestrado em Comunicação e Multimédia elaborou um documentário fotográfico que tem como protagonistas antigos contrabandistas da aldeia.

Um investigador da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) realizou um documentário fotográfico sobre a rota do contrabando na aldeia transmontana de Tourém, no concelho de Montalegre. Os protagonistas do fotodocumentário são as pessoas e os lugares que fizeram parte da história do contrabando da aldeia raiana.

Hugo Carvalho dos Santos realizou este estudo documental no contexto do Mestrado em Comunicação e Multimédia sendo que o seu trabalho propõe constituir-se como “um documento que ajude na preservação e patrimonialização da memória do contrabando e da fronteira de Tourém”. A investigação propõe uma reflexão sobre o futuro da fronteira relembrando os lugares, hoje em vias de desertificação, e conta com testemunhos de antigos contrabandistas.

Na pequena localidade, com cerca de centena e meia  de habitantes, ninguém esconde o passado ligado ao contrabando, não só de produtos e animais, mas também de pessoas que tentavam passar a fronteira clandestinamente com o intuito de emigrar. Deixada no esquecimento pelo poder central, a povoação criou laços e métodos próprios de ligação com o comércio do outro lado da fronteira, o que ia contra contra a guerra entre os países.

Eram vários os produtos que serviam no contrabando e havia até códigos de ética entre contrabandistas e códigos estratégicos para enganar as autoridades. “O vinho de Espanha era ruim, mas era barato”, relata um dos antigos contrabandistas, que em pequeno, antes das aulas, ia ao vinho ao outro lado da raia. Os testemunhos revelam que os guardas das fronteiras eram corruptos “Os guardas também comiam. Eles ganhavam mais do que nós. Os maiores contrabandistas eram eles. Comiam bem. Quando deixavam passar um, já tinham comido dois”.

Enriquecido com muitas imagens de pessoas e lugares, a rota de contrabando, pelos olhos de Hugo Carvalho dos Santos, apresenta-se como repositório da memória de uma clandestinidade corajosa com imensos registos. Nesta mesma rota, realça-se ainda o reconhecimento popular da capela de S. Lourenço que a tradição consagrou como padroeiro dos contrabandistas, uma vez que era junto dela que sucediam muitas das operações clandestinas, na crença de que o santo as auxiliava.