Sonhos em construção
Fiquei a olhar para o computador por muito tempo, talvez porque eu própria ainda não sei explicar estes três anos. Ou, para ser sincera, por medo de não encontrar as palavras certas.
E agora, o que vais fazer? A verdade é que não sei. E durante muito tempo achei que isso queria dizer que eu estava atrasada ou a falhar nalguma coisa.
Quando terminei o secundário e escolhi Ciências da Comunicação, não foi porque tinha um grande plano. Foi porque, no meio de tudo o que eu não sabia, comunicação era o que me parecia menos errado. Só que, sendo eu tímida, ouvi muitas vezes o que ainda hoje me irrita: “Uma menina tão calada vai para comunicação?”. Como se falar pouco fosse sinónimo de não ter nada para dizer. Ou como se o silêncio fosse um defeito ou como se a minha maneira de ser anulasse as minhas capacidades.
Cheguei a Vila Real sem saber nada e com medo de tudo. Cheguei também com aquela ideia romantizada de que a vida só começa quando somos “grandes”. E eu queria tanto ser grande. Tive pressa e essa pressa fez-me tropeçar em dias que hoje vejo que deviam ter sido saboreados com mais tempo.
A verdade é que os três anos da licenciatura não foram “os melhores anos da minha vida”, como se costuma dizer. Não foram fáceis, nem perfeitos, foram intensos e confusos. Mas foram, sem dúvida, os anos em que mais cresci. Fui posta à prova com desafios e abracei oportunidades a medo que me mostraram repetidamente que eu conseguia muito mais do imaginava. Foi nesta cidade que percebi que os sonhos eram maiores que as montanhas.
Hoje, quero fazer tudo e, ao mesmo tempo, continuo a não saber exatamente aquilo que quero fazer. O que sei é que a comunicação se tornou no meu ponto de partida, que adoro escrever, contar histórias e, sobretudo, criar.
Aprendi que comunicar não é só falar alto e ter sempre o que dizer. É também saber observar e ouvir o que mundo ainda não disse em voz alta. E, por acaso, isso é algo que eu até sei fazer.

