A investigadora Sofia Botelho, licenciada e mestre em Engenharia Zootécnica pela UTAD, fez parte do projeto de investigação “ICAS Bísaro”. A investigação comprovou que a melhor alternativa à castração cirúrgica no porco bísaro, é a imunocastração que não causa dor animal e não prejudica a qualidade da carne. Sofia Botelho explica todo o processo no vídeo que se apresenta de seguida.

É sabido que o bem-estar animal é uma prioridade para o Homem. Garantir que a indústria animal continua a funcionar, mas de forma sustentável e com o mínimo prejuízo para o animal, é nos dias de hoje uma tarefa de máxima importância.

A carne que chega ao consumidor provém de animais, maioritariamente, castrados. Aproximadamente, 80% dos 120 milhões de porcos machos que se abatem na União Europeia todos os anos são castrados. Isto porque um animal inteiro, sem qualquer intervenção humana, produz após a puberdade um cheiro específico, conhecido como “cheiro sexual”, “cheiro a porco”, ou “cheiro a varrasco”, que não é de todo desejado pelo consumidor. As alternativas para eliminação deste cheiro são a castração cirúrgica, a mais comum, ou o abate antes da puberdade.

No caso dos suínos, a castração cirúrgica dá-se na primeira semana de vida, removendo o cordão espermático do animal. Mesmo sendo um processo rápido rápido, a cirurgia induz no leitão uma série de alterações fisiológicas e comportamentais claramente indicativos de dor e stress. Por isso mesmo, a União Europeia e a comunidade envolvida começaram a procurar uma alternativa a esta prática.

O projeto ICAS Bísaro sugeriu como alternativa à imunocastração, um processo barato e químico, que não induz qualquer tipo de dor ao animal. O projeto de investigação de que fez parte Sofia Botelho, investigadora e docente na UTAD, focou-se no porco bísaro, natural de Trás-os-Montes. Em linhas gerais, a imunocastraçao consiste numa vacina, dada em duas doses, que ativa o sistema imunitário do porco a responder contra hormonas sexuais do próprio organismo, que geram o cheiro a porco.

Foi provado que a imunocastração surte o mesmo efeito positivo da castração cirúrgica, no sentido em que é capaz de eliminar o cheiro sexual. No entanto, não causa as mesmas consequências negativas. O porco bísaro é um animal gordo por natureza, mas quando castrado cirurgicamente os seus níveis de gordura tendem a aumentar ainda mais. Sendo imunocastrado tal não acontece. Além de não causar qualquer tipo de dor ou stress, a imunocastração também não altera a qualidade da carne, ao contrário da castração cirúrgica onde tal acontece, devido à gordura acumulada. Abaixo, é possível perceber as diferenças dos dois processos de forma mais simples.

O último passo da investigação foi treinar pessoas para detetar com a maior facilidade o cheiro a porco da carne. Essas pessoas foram expostas a diferentes carnes no fim do processo: umas de porcos inteiros, outras de porcos imunocastrados, outras de porcos castrados cirurgicamente. As pessoas foram capazes de identificar as diferenças e perceber que a carne de porcos imunocastrados apresentava a maior qualidade e total ausência de cheiro a porco.

O processo da investigação deste projeto encontra-se resumido na seguinte infografia.

 

Este estudo constitui um avanço enorme para o bem-estar animal, mas também para os produtores, que aderiram à imunocastração, e para os consumidores da carne. Em Portugal, a segunda carne mais consumida é a carne de porco, portanto é assunto de maior importância garantir que a mesma tem a melhor qualidade e causa o menor sacrifício e dor animal possível.

Autoria: André Gonçalves e Bárbara Carvas.