O sexismo é uma realidade nas universidades portuguesas
Numa semana em que se celebram os muitos sucessos da ciência portuguesa no Encontro Ciência 2017, debate-se também o sexismo que continua a estruturar a vida de cientistas e estudantes nas universidades portuguesas.
O discurso oficial nas universidades portuguesas, nos últimos dez anos, tem promovido a igualdade e a inclusão de todos os cidadãos. Existe um maior reconhecimento público da necessidade de combater desigualdades (de género e não só) no meio académico. Apesar de tudo isto, um estudo feito pela socióloga Maria do Mar Pereira, que será lançado em livro, no próximo dia 6, em Lisboa, revela a existência de sexismo nas universidades portuguesas.
Segundo o estudo, este discurso oficial igualitário está inserido numa cultura sexista. Associações de estudantes, conversas de corredor e muitas salas de aula são palco de formas de discriminação, ridicularização e menorização das mulheres e das pessoas lésbicas, gays, bissexuais e transexuais (LGBT) e da investigação científica que elas desenvolvem.
Manifestações de sexismo como estas são preocupantes na medida em que reduzem a qualidade da formação universitária, condicionam o sucesso e oportunidades académicos de mulheres e pessoas LGBT e, acima de tudo, afetam a saúde mental dos alvos de tais reprovações.
O estudo de Maria do Mar Pereira baseou-se em entrevistas de 40 cientistas e estudantes e na observação em mais de 50 eventos científicos nas ciências socais e humanidades entre 2008 e 2009 e entre 2015 e 2016. Trata-se de uma análise pioneira porque se centrou não só nos discursos, documentos, números e políticas oficiais, mas também nas culturas de corredor, isto é, nas interações informais, menos visíveis. Desta forma, foi possível revelar a existência de um intenso sexismo diário, mas oculto. Este sexismo é expresso muitas vezes através de humor, ou de uma “cultura de gozo”.
O estudo vai ser apresentado no simpósio “Sexismo nas Universidades Portuguesas”, que decorrerá no Centro de Cultura e Intervenção Feminista. O simpósio é grátis e aberto ao público.