Estamos no século XXI. O século das depressões, da anemia mundial, da saúde mental, da normalização, da diferença, do ressurgimento do extremismo, do discurso de ódio na internet, do choque geracional, da sexualidade, das guerras e conflitos.

Sou homem. Só dizê-lo já me limita, não é? “És homem, inferiorizas as mulheres. Tens mais direitos do que elas. Sempre tiveram tudo!”
Sou homem, às vezes não me sinto homem! Isto choca-te? Não devia usar brincos, pois não? Se calhar tenho alguns jeitos que te deixam desconfortável, não é? Provavelmente tenho de ser mais comedido, colocar o sorriso mais amarelo que tenho e tornar-me um homem de verdade.

Permite-me fazer-te uma pergunta? Sabes quando vais ao supermercado e encontras aquelas embalagens de iogurte que estão quase a ultrapassar a validade? Por norma colocam-lhe uma etiqueta para identificar que a data limite está quase a terminar, não é? E se eu te disser que já fizeram isso comigo?

Passo a mão pelo meu ego e tento diminui-lo porque, simplesmente, não posso ser eu. Não cruzo a perna, afinal vão pensar que sou um homossexual de primeira. Gesticulo os braços de forma forçada porque ser natural é motivo de histerismo e excitação. Finjo que não sei o que é um primer porque isso é coisa de mulher. Falo pouco porque a minha opinião sobre determinados temas afetam os outros. Tento esconder os meus brincos, senão vou ser olhado na rua. Caminho de forma reta para que não pensem que tenho um jeito diferente. Visto-me a preceito, a roupa pode ser símbolo de pouca masculinidade. Evito alaridos, a minha família pode pensar que não sou normal.

Permite-me mais uma questão? Depois de tudo isto, não te sentes sufocado/a? Que bom é viver sob a alçada de rótulos que tu mesmo desconheces. Que bom é restringir o lugar das pessoas num quadrado com risca azul. Que bom é viver sob o preconceito ao lado do patriarcado. Que bom é nos sentirmos apontados com trinta e uma armas ao peito.

No final do dia, deito-me na minha almofada que apoquenta todos os meus problemas. Numa reflexão profunda termino a lição com a simples pergunta “para quê viver sob o preconceito, se o mundo vai seguir do mesmo jeito?”.

Abril chegou. E com ele chegou também um novo raiar, uma nova oportunidade e uma voz que não se cala perante a injustiça, o adultério e a artificialidade. Se tanto proclamamos a liberdade porque é que não paramos com o julgamento?