As eleições autárquicas de 2025 marcaram uma mudança profunda no equilíbrio político português. O Partido Socialista, que durante anos dominou o poder regional, perdeu câmaras simbólicas e deixou de ser a principal força autárquica do país. Este resultado reflete o desgaste de um partido que, apesar da sua experiência e estrutura se afastou do eleitorado e das suas preocupações mais urgentes.

A erosão do PS revela um cansaço coletivo. O discurso político tornou-se previsível, as promessas perderam força e a ligação às comunidades enfraqueceu. Quando a proximidade desaparece, o espaço é rapidamente ocupado por novas vozes, mesmo que estas sejam vozes que vivem do descontentamento.

É neste cenário que o Chega cresce, não tanto como esperava mas, pela primeira vez, conquistou três câmaras municipais e reforçou a sua presença em várias freguesias, demonstrando uma capacidade de influência territorial que não pode ser ignorada. No entanto, este crescimento levanta preocupações sérias. O discurso populista  e polarizador do partido começa a ganhar espaço no poder autárquico. A sua ascensão traduz uma insatisfação real, mas também um risco: o de normalizar ideias que enfraquecem valores democráticos fundamentais.

Entre estes dois polos, o PSD procura reposicionar-se como principal força política, recuperando autarquias e reforçando a sua presença em conselhos-chave. Ainda assim, a sua vitória é vista mais como resultado do desgaste socialista  do que um projeto político mobilizador.

O desgaste socialista é um sinal, o avanço do Chega é um aviso. Portugal vive um momento de transição em que o descontentamento se transforma em força política. Cabe agora às correntes democráticas reconquistar confiança aproximar-se das pessoas e responder aos problemas com clareza e responsabilidade. Caso contrário, o país poderá continuar a mover-se num rumo onde a indignação pesa mais que a razão.