Uma sociedade onde os jovens não conseguem construir o seu futuro é uma sociedade que compromete o seu próprio crescimento.

A crise da habitação em Portugal tornou-se um dos maiores desafios sociais e económicos do país, um problema que deixou de atingir apenas grupos específicos e passou a afetar jovens, famílias, trabalhadores qualificados e até idosos. Todos sentem, de uma forma ou de outra, o peso de um custo de vida que cresce a um ritmo que os salários simplesmente não acompanham. A habitação, que deveria ser um direito básico, transformou-se num luxo para muitos.

Hoje, procurar casa é frustrante. Os preços de compra atingem valores absurdos para uma grande parte da população e as rendas seguem o mesmo caminho, ultrapassando aquilo que seria razoável face aos rendimentos das famílias.

As despesas aumentam muito mais depressa do que a capacidade financeira das famílias. E, quando o orçamento é engolido literalmente pela habitação, tudo o resto fica em risco, ou seja, a alimentação, a saúde, a educação, a poupança, a própria estabilidade emocional.

Uma das grandes causas desta realidade é a falta de oferta acessível. Durante anos, Portugal assistiu a uma explosão do turismo, a investimentos estrangeiros no imobiliário e ao crescimento do alojamento local, fenómenos que trouxeram riqueza em alguns aspetos mas, retiraram milhares de casas do mercado de arrendamento tradicional.

A consequência mais visível é o adiamento da vida adulta. Muitos jovens continuam sem condições para sair de casa dos pais, não por falta de vontade, mas por falta de alternativas. Outros acabam por aceitar viver em quartos sobrelotados, em casas mal conservadas ou em zonas periféricas onde os transportes são precários.

Outra consequência evidente é a criação de desigualdades profundas. Quem herdou casa ou conseguiu comprar antes da escalada de preços está relativamente protegido. Quem chega agora ao mercado está condenado a sacrificar uma parte desproporcional do rendimento ou a desistir.

O Estado tem tentado responder, mas muitas medidas parecem tímidas ou tardias. Portugal não precisa apenas de mais casas, necessita de casas acessíveis, estáveis, próximas dos centros de trabalho e com condições dignas. Precisa de uma política habitacional que não seja apenas reativa, mas estratégica.

Ao mesmo tempo, a questão do custo de vida não se esgota na habitação. A subida dos preços da energia, dos bens essenciais e dos transportes contribui para um sentimento generalizado de insegurança financeira.

Muitos portugueses vivem hoje com a sensação de que trabalham mais mas conseguem menos, como se o esforço já não fosse suficiente para garantir tranquilidade. Esta perceção, por si só, desgasta a confiança no futuro e alimenta descontentamento social.

A verdade é que Portugal, ou encara a habitação como uma prioridade absoluta, tão importante como a saúde, ou a educação ou continuará a perder talento, qualidade de vida e coesão social. Resolver este problema exige coragem política, investimento público substancial e uma mudança de paradigma. A ideia de que a habitação não pode ser tratada apenas como um ativo financeiro, mas como um bem essencial para a dignidade humana.

Enquanto isto não acontecer, continuaremos a assistir a uma geração que vive num país onde ama o clima, a cultura e a segurança, mas não consegue pagar para viver nele. E esta é talvez a maior contradição de todas.

Portugal tornou-se tão desejável que se tornou inacessível para muitos daqueles que o constroem todos os dias.