Não sou boa nisto, mas qual é o problema?

Quando era criança, gostava de experimentar coisas novas, encontrar novos hobbies. Já tentei uma variedade de atividades, desde desportos, como vólei e atletismo, a arte, como música e desenho. Naquela época, os hobbies eram uma forma de diversão, que preenchiam os meus tempos livres. Mas com o tempo, acabei por negligenciar essas coisas que gostava.

Ouço muitas vezes que hobbies são uma perda de tempo e que podiam ser substituídos por algo mais “produtivo”. Mas acho eu que é aí que habita a beleza dos hobbies. Não precisamos de ser excelentes e nem provar aos outros. Eles servem como escape de um dia a dia atarefado e trazem-nos algum prazer e conforto.

Organizar o nosso tempo deve ser uma das tarefas desafiantes. Sentimos que nunca temos tempo para nada e que devemos ser estratégicos na sua utilização.

A verdade é que me sentia mais criativa e interessante quando fazia algo que gostava. Talvez seja através dos hobbies que abraçamos a nossa criança interior. Fazer coisas que fazia quando mais nova traz-me sensações que não consigo explicar. É como se viajasse no tempo, onde tudo parecia simples e fantasioso.

Li numa entrevista (eu acho) feita com a Clarisse Lispector, onde a escritora falava da sua paixão por pintar. E um dos motivos para gostar tanto era porque não era profissional na área. Não sentia a necessidade de aprender técnicas, apenas se deixava levar pelas cores e pelo relaxamento que lhe trazia.

Esta declaração deu-me vontade de encontrar um novo hobbie que me fizesse sentir assim. O mais importante seria encontrar algo que faz florir a nossa criatividade e nos liberta da pressão de um compromisso. São interesses pessoais que só a nós nos interessam e, de alguma forma, nos fazem evoluir.

Nesta fase de entrada na vida adulta, onde tudo parece incerto e não temos certeza de quem somos e do que gostamos, ter diferentes interesses pode dar uma ajuda.

Por isso, discordo desta ideia de perda de tempo. Por que seriam as nossas paixões e interesses um desperdício? São eles que nos completam e tornam-nos únicos.