A rotina do dia a dia é importante para mim. É como um ritual e já se desenrola com naturalidade.

Acordo, escolho uma playlist, coloco os fones e faço o meu café habitual. A caneca é sempre a mesma, a minha preferida e, enquanto preparo este combustível líquido para me dar energia, está um pão a torrar para mais tarde ser barrado com queijo philadelphia.

Tomo o pequeno almoço enquanto faço scroll no TikTok, respondo a mensagens ou leio o meu livro. Arranjo-me para enfrentar o dia e saio de casa para apanhar o autocarro para a faculdade. E tudo isto acontece enquanto uma playlist ou um Podcast ecoa nos meus fones.

Ao regressar a casa, a rotina pode variar, mas o ruído de fundo mantém-se: uma série ou um vídeo a dar. Concentro-me mais facilmente com som de fundo então, quando estou a estudar, há sempre um disco a rodar ou então uma playlist a ecoar.

Noutro dia, saí de casa apressada e esqueci-me dos fones. Confesso que, por um momento, ponderei voltar a casa para os ir buscar, mas isso iria implicar perder o autocarro, e não me podia dar ao luxo de chegar atrasada. E lá fui eu. Sozinha e sem música de fundo.

A partir deste momento, tenho vindo a refletir sobre esta minha necessidade de estar sempre estimulada. Cheguei à conclusão que todo este ruído de fundo presente na minha vida é propositado. Sinto a necessidade de estar constantemente rodeada de estímulos para compensar o facto de estar sozinha numa cidade que não é a minha.

Embora Vila Real se tenha tornado a minha nova casa, por vezes ainda me sinto solitária.

O ruído também me ajuda a desviar a atenção de todos os pensamentos que me invadem diariamente – e acreditem, são muitos, e por vezes sem sentido algum. Parecem-se com peças de vários puzzles e nunca se encaixam.

Confesso que, assim como o café logo de manhã e as meias fofas nos pés, estes ruídos de fundo fazem parte da minha rotina. São uma solução rápida para este vazio que, por vezes, se faz notar. 

Talvez um dia consiga viver com os meus pensamentos em silêncio e sem distrações.