Quando Assessor se escreve com C de cão
Porque o jornalismo de proximidade se faz com jornalistas locais e regionais
Quantos de nós, jornalistas locais e regionais, já não sentiram na carne uma “ferradela” de assessores de imprensa que, famintos de protagonismo, se fazem valer da posição que lhes foi dada para bloquearem o nosso trabalho.
O que é curioso é que são esses “cães de fila” que, diariamente, nos contactam e entopem a nossa caixa de email com informações que esperam ver noticiadas. Até porque, sem a figura do jornalista e sem o jornalismo, não teriam oportunidade de exercer a sua “democracia”.
Sim, eu sei: eles são remunerados para fazerem esse papel. Também sei que não podemos generalizar porque bons e maus profissionais existem em todo o lado. Quero deixar bem claro que sei disso tudo e muito mais.
Sei, por exemplo, que sem as fontes não teríamos notícias, que manter uma política de proximidade com as fontes é como o código postal: é “meio caminho andado”. Mas também sei que essas fontes têm que ser bem esmiuçadas, confirmadas, trabalhadas para que não sejam dados “tiros nos pés”. Mas sei ainda mais… que o jornalismo local e regional, quando se vê confrontado com visitas de estado/governamentais, fica automaticamente relegado para segundo plano.
E passo a explicar: Um Primeiro Ministro, Ministro ou Secretário de Estado que visita o concelho e/ou região no âmbito de um convite da autarquia ou de uma qualquer outra instituição local é recebido por todos os órgãos de comunicação social. O programa é divulgado, os jornalistas acompanham e, no momento das perguntas, o que interessa é a posição/opinião sobre o assunto nacional que está na ordem do dia, é escarafunchar o olho do furacão, é explorar a polémica. Isto, leia-se, por parte da comunicação social nacional.
Mas já está na hora de entender, de uma vez por todas, que o que interessa à comunicação social regional/local é o que esses senhores governantes têm a dizer sobre o que viram, sobre a visita que está no programa. Porque a função do jornalista de proximidade é essa: levar a quem nos lê, nos ouve ou nos vê a realidade local. Cumpre-nos essa missão de dar a conhecer o que vai sendo feito ou não, o que vai sendo dito ou não…
Senhores assessores de imprensa: notícias nacionais, todos podemos assistir, ler e ouvir nos órgãos nacionais, mas, as notícias da nossa terra só os jornalistas que nela trabalham é que as vinculam e fazem chegar à população.
Assim, não pedimos mais do que um “deixem-nos trabalhar” … e o que é de lamentar é que muitas vezes somos travados pelos tais assessores que mais não fazem que ser sombras, lambe-botas a morder os calcanhares do seu “dono” ao boicotarem o nosso trabalho. Cães de fila prontos a atacar quando algum jornalista mais independente tenta, apenas, fazer o seu trabalho bem feito.