Há quem fale das vedetas do futebol. Há quem fale das grandes celebridades, as mediáticas. Aquelas que, constantemente, aparecem pela tela mágica e deixam o público assoberbado.
Há quem fale das grandes profissões. Médicos. Engenheiros. Cargos de alto gabarito.
Há quem fale do homem imponente, da mulher que sai de tacão alto pela rua. Há até quem fale das vaidades dos políticos, da mísera Assembleia e da governação tão disfuncional.
Há quem fale do bancário e do diretor. Há quem fale do apresentador, daquele que se vê e ouve. E há ainda quem fale dos empresários, aqueles que se sentam e pouco de lá saem.

Ó Portugal, ninguém fala dos esquecidos, pois não?
Não há quem fale do varredor que, todos os dias, madruga para limpar as ruas da cidade. Não há quem fale do poeta, do louco que debita palavras e as invade. Não há quem fale do sem abrigo, daquele que tem morada na rua, daquele que come a fome e a miséria.
Não há quem fale do teatro. Da cultura. Da música. Da escultura. Então e a pintura? Serão artes invisíveis, assim tão esquecidas? Será assim tão pobre a nossa cultura para não merecer um único porcento da atenção do Estado?
Não há quem fale do cuidador informal, que se mata lentamente para não deixar outros morrer.
Não há quem fale do lixeiro, dos que pernoitam para nos dar qualidade de vida e bem-estar.
Não há quem fale das profissões que também são dignas. Padeiros. Auxiliares. Costureiras. E tantas outras mais. Cargos que pouco dizem às grandes classes sociais e económicas.

O avental carrega o peso de uma geração desgovernada. A pensão já pouco chega até ao final do mês. As alternativas são tão escassas. Pobre freguês que abre o olhar para sobreviver. Pobre daquele que sabe que vive para morrer.
Há quem se contente com tão pouco, com a singularidade do dia-a-dia. E outros, que querem tudo para si. Os melhores bens materiais. A melhor reputação. O melhor sorriso forçado. Há quem só queira um aconchego, um abraço e alguém que lhes valorize.

“Eu vejo-te, não te preocupes. Eu vejo-te. Há tantas pessoas que só precisam de que as vejam, tantas, tantas.” – Pedro Chagas Freitas

Hoje o país fica mais pobre. Ó Portugal, não te deixes cair na decadência, não permitas a pobreza e o infortúnio. Não permitas a violência, a fome e a depressão. Não permitas palavras tão duras.

Ó Portugal, afinal, são estas as tuas prioridades? Afinal, sempre quiseste um país desequilibrado, onde uns vivem do pouco e outros com tanto? Não te deixes enredar com políticas extremistas, capitalistas desorientados e gente sem escrúpulos. Tu és mais do que aquilo que os outros precisam.

Ó Portugal, volta a ser Abril! Ó Portugal, volta a ser português! As gentes. As tradições. O ser terreno. A dança. Os costumes. A vaidade. O teu ser.

Ó Portugal, volta a ser nosso, como sempre quiseste ser. Há quem te veja para sempre nosso. Ó Portugal, abre os teus horizontes e olha em teu redor. Só há pobreza.