Quando julgávamos estar livres do cenário infernal que assola o nosso país todos os anos, os incêndios florestais de setembro apareceram repentinamente e sem qualquer convite.

Portugal continental vestiu um véu de fumo e assumiu a derrota contra as chamas que consumiram sobretudo as regiões Norte e Centro. O resultado deste confronto desleal resume-se a cinzas: foram perdidas vidas, destruídos lares e ardidos milhares de hectares.

A prevenção e o combate dos fogos deveriam ter sido assegurados pelo Governo, mas isso esteve longe de acontecer. A limpeza e o planeamento florestal revelaram deficiências, os bombeiros sobreviveram da boa vontade dos populares para terem mantimentos suficientes e grande parte das áreas de eucaliptos ainda se encontram abandonadas, sujeitas a arder.

Testemunhámos fogos ativos, mas um Estado inativo. Testemunhámos uma catástrofe repetitiva, mas um Estado não interventivo. Onde está o devido investimento que foi prometido? Cá para mim, estará entre as palavras que serão ditas entre a fumaça deixada por estas e pelas próximas chamas.

Mas nem tudo é motivo de descontentamento. Há que destacar aqueles cujo país chamou e eles foram. Os bombeiros que, heroicamente, colocaram e continuam a pôr as suas vidas em risco, mesmo quando o fogo parece não querer dar tréguas. E todas as pessoas que os ajudaram nesta luta impiedosa, de uma forma ou de outra, e que deram sentido à palavra resiliência. Estes são os verdadeiros heróis.

Agora, resta a dúvida do que fazer a seguir.

As chamas apagaram-se, mas ainda assim a mágoa persiste. Apenas sobra um eco de nada, um vazio que se entranha nas rachaduras das paredes queimadas e que sussurra, friamente, as histórias que o calor do fogo levou.

Ainda com pouco, a vida insiste e obriga-nos a ter coragem de reconstruir e de florescer o que ficou perdido entre nós e as cinzas.

Acima de tudo, Portugal tem de começar a encarar os incêndios como um problema urgente e não como um velho visitante que o verão costuma receber.