Por vezes, nos dias em que a chuva insiste em escorregar intensamente pelos vidros da janela do quarto e onde o vento decide mostrar como domina a arte do bem abanar as árvores e os guarda-chuvas, dou por mim a contemplar os ponteiros do relógio a somarem mais um minuto à vida. Paro para pensar no meu propósito enquanto passeio pelas ruas e questiono-me: se realmente existe algum, qual será o sentido da vida?

Será, efetivamente, que todos nascemos com um propósito? Ou será que o vamos descobrindo e moldando ao longo do tempo? E a vida, terá ela, apenas, um único sentido? Ou conta com múltiplas direções e quiçá, dimensões?

O meu pai refere, algumas vezes, que a única coisa para o qual não existe solução é a morte. E isso deixa-me nostálgica e a refletir na efemeridade de tudo, desde o mais simples, ao mais complexo pormenor. Porque rapidamente podemos ser tudo e num instante, virarmos um nada.

De facto, ensinam-nos, desde muito cedo, a olhar para a magnitude da Natureza e para a sua exímia sincronicidade, onde, facilmente nos é possível perceber como cada peça se exibe de uma determinada maneira e, no fim do dia, se encaixa no seu lugar, como se de um puzzle se tratasse. Exemplo disso é o girassol, que gira em torno do sol. Mas a realidade é que ninguém nos ensina a lidar com o fim do ciclo e com a dor que se instala. Talvez porque ninguém saiba como o fazer. Talvez porque, nunca, ninguém vá saber como o fazer.

Particularmente, não sei se existe uma extensão para um outro lado, distante e invisível aos nossos olhos. Prefiro acreditar que as pessoas que já partiram, continuam vivas na nossa memória, enquanto nos mantivermos por cá.

E na verdade, gosto, também, de abraçar a ideia de que a vida significa poder ser tudo e poder sentir muito, sem que haja, necessariamente, um destino traçado. Porque o caminho faz-se caminhando e o importante é agarrarmo-nos ao mundo, com unhas e dentes, aproveitando, sempre, cada milésimo de segundo ao lado daqueles que mais amamos.

Por isso, que isto seja um lembrete para sorrirmos mais, abraçarmos mais, vivermos mais, sermos mais, ajudarmos mais, partilharmos mais e ouvirmos mais.

O meu pai diz-me, muitas vezes, que a única coisa para o qual não existe solução é a morte e se, por acaso, algum dia, o meu propósito de vida não encontrar, hei-de acreditar que, no mínimo, tenhamos todos vindo ao mundo, para sermos felizes. Todos, sem exceção.