Operação para proteger ou licença para matar?
Na madrugada de 28 de Outubro de 2025, mais de 2.5000 agentes de segurança invadiram os territórios do Complexo do Alemão e da Comunidade da Penha, na Zona Norte do Rio de Janeiro. O alvo principal era a fação criminosa Comando Vermelho.
O resultado foi a identificação de pelo menos 115 pessoas mortas até ao momento, número que, segundo outras fontes, pode chegar a 132, tornando-se a operação mais letal da história do Brasil. Enquanto as autoridades declaram sucesso no combate ao crime, em comunidades locais como as favelas, e em organizações de direitos humanos e meios internacionais, cresce a dúvida se será esta uma ação legítima de proteção ou uma licença para matar.
O governo justificou a operação no Rio de Janeiro como uma tentativa de recuperar áreas controladas por fações violentas que limitavam a liberdade e o acesso a serviços básicos nas comunidades. Num país marcado pela insegurança e sensação de impunidade, a ação foi inicialmente vista como necessária. Apesar de muitos dos mortos terem antecedentes criminais (78 dos 99 identificados), nenhum deles constava na lista oficial de alvos autorizados pela justiça, o que levanta questões sobre a legalidade e legitimidade da operação e acaba por passar a mensagem de que atiraram para matar indiscriminadamente.
O centro da polémica que deixa mais perguntas do que respostas gira à volta da força usada, o número de vítimas e a ausência de transparência da mega operação policial. Compara-se a mesma a um cenário de guerra, resultando em centenas de mortes numa área vulnerável, com reflexos imediatos na vida das comunidades como as escolas suspensas, transportes bloqueados, o medo e a revoltada face às forças policiais que não só afeta quem lá habita neste momento mas até mesmo as próximas gerações.
Por fim, fica a interrogação: “Esta operação foi feita para proteger ou era uma licença para matar?”. A resposta não é fácil nem universal, porém, acredito que num mundo onde a ordem e a liberdade atropelam-se frequentemente, garantir a igualdade e a segurança da comunidade não deve disfarçar a opressão.

