No tempo em que a Floresta era de todos
Momentos em família, de partilha e convívio
O frango assado, o tacho de arroz embrulhado em folhas de jornal, o bolo mármore, as mãos pegajosas de resina, os pés picados pela caruma dos pinheiros.
Sábados e domingos de picnic passados numa mata qualquer… lugar ideal para tornar mais frescos os dias quentes de verão numa região de “nove meses de inverno e três de inferno” como tão bem escreveu o poeta duriense, António Cabral.
Momentos em família, de partilha e convívio, aromatizados pelo cheiro dos pinheiros feridos, rasgados nos seus troncos. Golpes suturados por sacos pendurados que recolhiam as lágrimas feitas de resina. Produto que iria servir de alimento a uma indústria devoradora.
Uma floresta que era de todos, aberta, livre. Sempre de “portas” escancaradas para quem dela quisesse usufruir.
Hoje sabe-se que, afinal, a floresta tem dono e… já não se vai para lá! Viramos-lhe, então, as costas. Botamo-la ao abandono. E agora?…
Agora está despojada das gargalhadas e brincadeiras das crianças, silenciada de conversas de adultos, calada de música e relatos de futebol que saíam estridentes do rádio de pilhas.
Está só. Entregue a si própria e à sua sorte. Abandonada.
E os cheiros… o que agora todos retemos na memória é o odor a queimado de incêndio.
E o verde de então é agora negro… negro de dor de se sentir sozinha!
O golpe nos troncos das árvores já não retém em sacos de plástico as lágrimas resinosas. Agora são as labaredas quem lhes lambe as feridas impostas por todos nós!