O regresso de Mariana Mortágua, Diogo Chaves, Sofia Aparício e Miguel Duarte a Lisboa não foi apenas mais um episódio diplomático, foi um momento carregado de simbolismo político e moral. Os quatro ativistas, detidos, e, posteriormente repatriados por Israel após integrarem a Flotilha Global Sumud, foram recebidos com euforia, emoção e um profundo sentido de solidariedade por dezenas de manifestantes Pró-Palestina no aeroporto de Lisboa.

As bandeiras palestinianas, os cartazes com palavras de ordem como “Libertem a Palestina” e o mar de keffiyehs (o lenço tradicional palestiniano) não deixaram margem para dúvidas: a receção foi um ato político, uma afirmação de resistência e de empatia com um povo martirizado há décadas.

É impossível ignorar o contraste entre a energia solidária em Lisboa e o silêncio cúmplice que, muitas vezes, domina o debate político sobre Gaza. Quando figuras públicas como Mariana Mortágua ou Sofia Aparício se dispõem a embarcar numa missão humanitária que desafia o bloqueio israelita, e acabam detidas em condições degradantes, o gesto ultrapassa o ativismo: torna-se denúncia viva de uma injustiça estrutural que muitos preferem não ver.

Desta forma, este episódio levanta uma questão fundamental: Até que ponto estamos dispostos a aceitar que a ajuda humanitária seja criminalizada? E que a solidariedade internacional seja tratada como ameaça?

O acolhimento entusiástico no aeroporto revela que há uma parte do país que não se conforma com o sofrimento na Faixa de Gaza, nem com discursos de normalização da violência.

O que se passou em Lisboa é mais do que a chegada de quatro pessoas libertadas. É um espelho da consciência coletiva que, pouco a pouco, começa a despertar.