Já deste por ti a ser demasiado duro contigo próprio por sentir que não foste produtivo o suficiente durante o teu dia?

A romantizar a vida numa cidade agitada onde, cada um, no ritmo frenético das ruas, finge saber o seu propósito e exatamente aquilo que persegue?

Nova Iorque é um dos símbolos máximos da glorificação excessiva do trabalho e do sucesso.

É a cidade que não dorme. A cidade que não para. A cidade que os invencíveis desejam habitar. A cidade dos sonhadores e dos visionários.

É neste ambiente, rodeados por pessoas bem-sucedidas e das quais sentimos uma leve inveja, que a linha tênue entre a nossa vida pessoal e profissional pode ser quebrada, começando a exercer influência negativa uma sobre a outra.

Esta exaltação do sacrifício pessoal e da constante produtividade, da valorização da sobrecarga do trabalho e do “trabalho fora de horas”, está diretamente ligada à popularização da Cultura de Hustel – a ideia de que o caminho para o sucesso e para e a realização pessoal deve ser duro, competitivo e, muitas vezes, acompanhado da sacarificação da saúde mental e do bem-estar pessoal do indivíduo.

Será que permanecer nesta dança não se torna insustentável ao longo do tempo?

Será que, no final, o único vencedor será só e, apenas, o cansaço?

Penso que sim.

O enaltecimento exagerado deste estilo de vida pode gerar efeitos secundários complicados, assim como Burnout (exaustão extrema: física, emocional e mental), impactos na saúde mental e na qualidade de vida do indivíduo, e impactos nas suas relações pessoais.

Até que ponto trabalhar de forma exaustiva, adiando férias, folgas e tempo para descontrair e relaxar realmente nos proporciona o sentimento de realização e de sucesso esperado?

Acho que, no período final da minha vida, vou-me sentir mais realizada e grata por ter estado presente num convívio de amigos ou família, ou num recital de piano dos meus filhos, do que me sentiria se tivesse optado por faltar a estes momentos para ficar a terminar um projeto no trabalho.

O filme O Diabo veste Prada, com a emblemática Meryl Streep e a icónica Anne Hathaway, é uma ótima crítica ao estilo de vida frenético dos habitantes de uma grande cidade e relaciona-se fortemente com a Cultura de Hustle.

Durante o filme, acompanhamos a história de Andy (Anne Hathaway), uma jornalista que se vê confrontada com a oportunidade da sua vida, trabalhar numa das revistas de moda mais importante e influente de sempre, a “Runway Magazine”.

Andy aceita, então, o desafio e passa a trabalhar como assistente da temida Miranda Priestly (Meryl Streep), a editora-chefe da revista.

Com o decorrer do filme, Andy rapidamente se vê no centro de uma rotina de trabalho extrema e cansativa, onde, muitas vezes, tende a ceder à pressão da sua vida profissional. Esta cedência leva-a a sacrificar os seus valores pessoais, o que, inevitavelmente, acaba por prejudicar os seus relacionamentos.

A vida é uma constante oscilação entre ânsia de ter e o tédio de possuir. (Arthur Schopenhauer)

Esta é uma frase muito associada ao filósofo Arthur Schopenhauer e mostra-nos que, por vezes, queremos tanto alcançar algo que, quando finalmente o conseguimos, ficamos com aquela sensação de  “E agora? O que se segue? Para onde me viro?”

Nem todos os sonhos podem ser concretizados, por muito que queiramos e que tentemos. E está tudo bem com isso.

Eu, por exemplo, não sei se irei conseguir sair da casa dos meus pais e comprar uma casa antes dos 30, mas isso é conversa para outro dia.