O cinema não morreu. A nossa preguiça matou-o.
Sempre que se fala da “crise do cinema“, a culpa é sempre colocada no preço dos bilhetes ou na facilidade do streaming. Mas será que o problema é só económico? Ou será que nos tornámos numa audiência culturalmente preguiçosa, viciada em sensações rápidas e incapaz de respeitar o espaço público?
A verdade, por mais dura que seja, é que ir ao cinema muitas vezes se tornou uma experiência desagradável. E nem é por causa do projetor ou das cadeiras… A culpa é das pessoas.
A Sala Escura transformou-se num Circo Iluminado. Pagar oito euros para tentar ver um filme enquanto o vizinho do lado faz scroll no Instagram com o brilho no máximo, ou enquanto um grupo de adolescentes comenta a história aos berros como se estivesse na sala de estar de casa, não é propriamente um “evento cultural“. É, sem dúvida, um teste à paciência.
O cinema exigia um acordo que foi violado: o silêncio e a imersão. Hoje, as pessoas não conseguem desligar o telemóvel durante duas horas, e isso faz com que o cinema deixe de ser um local agradável. Se as pessoas veem o cinema como uma parte da sala de estar, porque é que saem de casa? Para muitos, o streaming venceu não porque é melhor, mas porque os poupa à falta de civismo.
Por outro lado, nós, enquanto consumidores, trocámos a Arte pelo “Conteúdo”. O streaming habituou-nos mal. Já nos habituámos a ver filmes como se víssemos vídeos curtos do TikTok: se os primeiros 5 minutos não tiverem ação, trocamos. Já não temos a capacidade de pensar e refletir sobre as coisas.
Dizer que o cinema é um luxo não é a resposta completa. Gastamos o dobro desse valor em copos numa noite académica ou em subscrições que mal usamos. O cinema não se tornou caro demais, nós é que deixámos de lhe dar valor.
Atualmente, ir ao cinema já não é algo que as pessoas façam muitas vezes. Isto é para quem ainda tem coragem para se afastar do mundo digital, para mergulhar numa história sem a opção de “pausa” e sem o telemóvel como refúgio.
Se as salas de cinema desaparecerem, não vamos culpar a Netflix ou a Disney+. A culpa é nossa, porque preferimos ficar no sofá a ver televisão do que sair para ver um filme. O cinema não morreu de causas naturais, nós é que o estamos a destruir aos poucos com a nossa inércia.

