O mais recente filme brasileiro da plataforma de “streamingNetflix, designado “Caramelo“, realizado por Diego Freitas, parte de um princípio simples: a amizade entre um homem e um cão, a superação pessoal e a doçura emocional.

A narrativa foca-se na personagem Pedro, interpretada por Rafael Vitti, um jovem chef em ascensão que enfrenta uma contrariedade repentina, resultando numa reviravolta significativa na sua vida. No meio de uma crise, Pedro encontra um cão vira-lata de cor caramelo, que acaba por se tornar o seu companheiro inseparável, ajudando-o a redescobrir o sentido da vida. O enredo, apesar do seu carácter familiar, aborda uma temática universal: a capacidade dos animais refletirem e curarem a fragilidade humana. Trata-se de uma narrativa estruturada com o propósito de suscitar emoções e inspirar o público, sendo que o filme cumpre eficazmente essa função.

A utilização do “vira-lata caramelo” como protagonista não é meramente uma preferência estética ou emotiva. Este ato constitui um gesto simbólico, profundamente enraizado na identidade cultural brasileira. O cão caramelo é um ícone popular e afetivo, sendo considerado um símbolo de humildade, lealdade e resistência. Ao posicionar a figura do brasileiro no epicentro da narrativa, o filme celebra uma representação simbólica do próprio povo brasileiro: simplicidade e resiliência. Este filme dá um sabor local e genuíno, distinguindo-o de produções estrangeiras do mesmo género.

Outro aspeto a salientar é o impacto que o filme teve junto do público. Desde a sua estreia, o filme “Caramelo” alcançou o Top 10 da Netflix em mais de 70 países, acumulando mais de 15 milhões de visualizações nas primeiras semanas. Esta circunstância evidencia que, não impede as limitações artísticas, o filme cativou o público adequado: aquele que anseia por emoção genuína, leveza e uma mensagem positiva num contexto em que o cinema frequentemente se orienta para a dureza e o pessimismo. Ainda que aborde temáticas sensíveis, tais como a doença e o luto, o filme opta por uma narrativa luminosa, mais esperançosa do que trágica. Trata-se de um mérito raro que, em parte, explica o seu sucesso.

Em termos visuais, o filme apresenta uma estética fotográfica marcada por uma iluminação predominante, uma paleta de cores quentes e enquadramentos que valorizam o quotidiano. A direção de Freitas evita o tom excessivamente sombrio, mesmo perante a doença, o que contribui para um filme que se abre à luz, ao afeto, à comunidade, e não apenas ao sofrimento.

É evidente que o filme não está livre de limitações. Alguns críticos apontam que a narrativa segue um percurso previsível: a divulgação da doença, o momento de reviravolta com o cão, o “clímax emocional”, todos estes elementos podem ser antecipados por espetadores habituados a obras cinematográficas semelhantes. Contudo, é importante compreender que a previsibilidade, quando é utilizada de forma adequada e não compromete a experiência, deixa de ser um defeito e torna-se um conforto.

Em suma, “Caramelo” é mais do que apenas um filme “com um cão que emociona”. Trata-se de uma obra que alia competência técnica, emotividade, identidade brasileira e projeção internacional. Esta é a demonstração de que, no nosso audiovisual, existem vozes com a capacidade de se orientarem no mundo, sem que seja necessário abdicar da nossa identidade cultural.

Por isso, se procuram um filme para ver em família, que gere emoções intensas, com potencial para chorar, que fortaleça valores como a amizade, a resiliência e a compaixão pelos animais, “Caramelo” é uma excelente opção para uma tarde de lazer.