O cansaço invisível e a pressão para corresponder – um jogo que se cruza
O despertador não falha na sua missão, as cortinas estendem-se para trás e o sol invade as tijoleiras ou a chuva esconde-se entre as nuvens.
É mais um dia para puxar as orelhas à cama, meter a chave na fechadura e arrancar para chegar a tempo do autocarro.
As aulas começam de tarde e tarde acabam, mas no regresso a casa ainda há espaço para rever a matéria ou para existir, simplesmente, embrulhados na melodia da água a escorrer pelos ombros.
As luzes apagam-se e o sono vai aparecendo ao fundo do túnel, mas no dia seguinte, o capítulo continua para mais uma história.
E no meio de voltas e reviravoltas permanece aquilo que leva o seu tempo a desaparecer – o cansaço.
Espelha-se no rosto e no movimento do corpo, mas são poucos aqueles que falam dele.
Disfarça-se entre os quilos de maquilhagem ou deixa-se mostrar pelo olhar pesado, mas não abandona nenhum dos barcos.
Esquecem-se das noites mal dormidas, das horas de aflição, dos almoços apressados pré-testes, da falta de energia, do desânimo e da quebra de expectativas.
E para juntar à festa, lá vem mais um trabalhinho de grupo para animar a malta.
Ninguém fala do cansaço porque esta é a “nossa profissão”, ser-se estudante universitário e termos de corresponder àquilo que esperam de nós.
Ninguém fala da luta entre a vida académica e os obstáculos pessoais. E se há uns anos um amigo me disse “O difícil não é entrar na universidade, mas sim sair dela”, agora compreendo.
Não porque me vejo a sair pelas suas portas aos 30 anos, mas porque me identifico com todas as frentes de batalhas que é preciso gerir, a cada dia que passa.
Ninguém fala do cansaço e continuará a ser negligenciado por tantos, mas ele está lá para nos lembrarmos de o ouvir.
E talvez quando lhe dermos voz, a vida será mais leve e mais divertida.
Agora, é hora de recarregar as baterias, comer muito, dançar, curtir muito e dormir muito – o muito a que temos direito e que é necessário para colmatar todo o vazio que ficou para trás.