Boas intenções nem sempre são bem vindas
Grande parte das pessoas inscrevem-se num curso que não gostam, ou que não se identificam. Isto é um problema sério e grave, que não pode deixar de ser falado.
Ao longo da minha vida umas das frases que eu mais ouvi foi “o que queres ser quando fores grande?”, frase esta para qual eu sempre tive uma resposta clara e bem estruturada na minha mente; no entanto eu nunca fui exemplo claro e bem estruturado de cidadão comum, e como tal entendo que o meu processo de pensamento funcione de modo algo diferente do resto dos indivíduos que, juntamente comigo, habitam o planeta terra.
Um dos momentos principais da vida de qualquer pessoa é a entrada no mercado de trabalho e, embora a grande maioria ainda decida ingressar nele logo após a passagem para a maior idade ou da conclusão do ensino secundário, é sabido que um ensino facultativo de nível superior é uma vantagem para qualquer um que tente competir por uma posição desejada numa área de trabalho especifica. Seja licenciatura, mestrado, doutoramento ou qualquer outro tipo de grau académico, se alguém quer trabalhar numa determinada área necessita, cada vez mais, de algo adicional à conclusão do ensino secundário.
E aqui surge uma dúvida que, para muitos, é vista como um problema avassalador capaz de destruir noites de sono e de causar ansiedade a quem nele muito dedica o seu tempo e a sua mente. A verdade é que graças a este monstro comedor de sonhos cor-de-rosa grande parte das pessoas inscrevem-se num curso que não gostam, ou que não se identificam. Isto é um problema sério e grave, que não pode deixar de ser falado.
A desinformação quanto aos cursos não é um problema nos dias que correm; tendo em conta que qualquer ser humano com o mínimo de conhecimento tecnológico pode facilmente ir à internet e em 5 minutos já sabe no que consiste cada curso, que provas precisa para se poder candidatar, que saídas profissionais tem, disciplinas, e, imagine-se até, em alguns casos quem são os professores que lecionam cada unidade curricular. Se a falta de informação não é o problema, porque que ainda temos alunos em cursos que não gostam?
A resposta a essa pergunta, ao mesmo tempo que parece simples não o é de todo. “Pelo dinheiro!” dizem uns, e está certíssimo, afinal vivemos num mundo onde temos de pagar pelo simples facto de existirmos, motivo pelo qual não me vou centrar neste tópico. “Pelo prestígio da profissão!” dizem outros, e aqui está o problema. Vivemos numa sociedade que ainda tem muito presente aquilo a que eu chamo de “cultura de doutores” em que profissões como médico, engenheiro, advogado, gestores, entre outras são consideradas profissões “boas” com prestígio, bem vistas pela sociedade.
Isto gera que muita gente seja, desde pequena, incentivada, e até muitas vezes forçada, a entrar num curso que propicie a prática de uma “profissão de elite”; isto claro sem ter qualquer desejo ou vocação para tal. Quem passa por esta situação está a deitar fora toda e qualquer possibilidade de aproveitar a faculdade no seu melhor.
… Universidade … um sítio mágico onde muitos jovens estão pela primeira vez sem a asa dos pais em cima e onde finalmente podem descobrir mais sobre si mesmos e sobre o mundo que os rodeia e no qual habitam há tanto tempo sem qualquer noção do que é na realidade. Esta etapa é fundamental para o sucesso das suas vidas pessoais, académicas e até profissionais, mas, muitas vezes é cortada à nascença por causa de uma má escolha.
Estar num curso que não se gosta faz com que toda a magia do mundo universitário seja transformada em um autêntico pesadelo. As duas horas de uma cadeira interessante passam a ser encaradas como dois anos inteiros de sofrimento, a motivação para estudar não existe, a professora passa a ser um demónio enviado diretamente do fundo do inferno e isto pode causar, em casos mais extremos, um desvio em termos de saúde e de práticas, um quanto duvidosas, como a ingestão de drogas e álcool excessivo para que seja mais fácil de suportar a dor.
Aqui o jogo vira completamente e a família que outrora tinha pressionado o individuo a seguir determinado caminho passa a ser mal vista porque esse mesmo individuo agora é um “delinquente”. Entende-se que a família só queira o melhor para o seu filho, neto, sobrinho, …, mas ao fazer está pressão toda só está a gerar mais mal do que bem e afinal de contas a felicidade deve ser o “ser socialmente bem visto” ou no “descobrir-se e ser genuinamente feliz a fazer e estudar algo com que se identifica”?
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