Baby Reindeer: uma história onde todos podem ser protagonistas
Baby Reindeer (bebé rena) é uma minissérie do escritor e ator Richard Robert Steven Gadd, mais conhecido por Richard Gadd, cuja temática da violência sexual e do tão conhecido stalking se refletem numa mistura entre o drama e o humor.
A produção é um retrato autobiográfico de Richard Gadd, onde se espelham as suas experiências pessoais e onde o escritor, intitulado como “Donny Dunn”, protagoniza o seu passado traumático.
Esta história tem como “pontapé” de partida uma simples interação entre Donny Dunn e Martha, num pub, local onde o comediante (ainda à procura do seu rumo) trabalhava para pagar as contas. Donny Dunn, ao ver Martha a entrar pelo estabelecimento, visivelmente triste e desanimada, decide oferecer-lhe um chá por conta da casa, mas aquilo que ele não sabia é que este seu gesto gentil, se transformaria num verdadeiro pesadelo.
Martha torna-se obsessiva com Donny e revela-se uma verdadeira stalker. Entre a perseguição que esta lhe começa a fazer e todas as tentativas de controlar a sua vida, o protagonista vê-se apanhado no meio de uma espiral de acontecimentos que se sucedem.
Baby Reindeer, para além de ser o nome da série, é a alcunha que Martha adota para Donny, tratando-o sempre como tal. Ilustrada apenas numa temporada com sete episódios, cuja duração dos mesmos varia entre os trinta e os quarenta e cinco minutos, esta narrativa conta um elenco muito completo e relevante para a sua compreensão. Destacam-se, por isso, personagens como Teri, Liz, Keeley e Darrien O´Connor.
Em retrospectiva, é-me fácil perceber os motivos que levaram esta série, após a sua estreia na Netflix, a agarrar o título de “mais vista” em Portugal, nos Estados Unidos e no Reino Unido. De facto, cada episódio convida-nos a entrar na casa do autor e a conhecer as mossas que estão traçadas nas suas paredes. Numa sociedade onde facilmente se desenham as mulheres, como alvo da violência sexual, Baby Reindeer é uma chamada de atenção para todos e uma chapada de luva branca, para que as vítimas masculinas não sejam esquecidas. Por outro lado, somos encorajados a refletir que tal como as vítimas carecem de apoio psicológico, também os próprios agressores padecem, muitas vezes, de cuidados e tratamentos.
Pessoalmente, aponto, como único aspeto a melhorar, o final da série. Reconheço que esta poderia ter mais um ou dois episódios, para especificar melhor e partilhar alguns aspetos curiosos e relevantes sobre a vida profissional do comediante escocês, atualmente.
Ainda assim e como nota final, prometo que não se vão arrepender de assistir a esta pedaço de realidade. Desengane-se quem acha que isto só é o espelho da vida de Richard Gadd, porque o é, infelizmente, de tantos outros e outras que vestem a mesma pele que ele. Porque ninguém está livre de ser protagonista de uma história com contornos semelhantes.