A viagem estava prestes a começar, não havia mapa, apenas um bilhete de ida nas mãos e a promessa de algo novo. Ao embarcar, não sabíamos o quão longas seriam as estradas, nem qual seria o destino. 

Cada estação sentiu-se como uma paragem leve onde mais pessoas se juntaram, despedimo-nos dos velhos hábitos e acolhemos mudanças. Agora, sentados à janela a paisagem parece diferente, como se o tempo estivesse apressado e levou com ele a simplicidade dos primeiros dias. 

Cada rua tornou-se terreno conhecido. Cada sorriso trocado com os novos passageiros ajudou no caminho desta viagem. Mas ainda assim, falta algo. Como se um livro estivesse aberto nas últimas páginas, mas a caneta hesitasse em traçar o fim. Um livro cujas páginas se começaram a acumular com o tempo. Os capítulos até agora escritos estão repletos de erros, rascunhos, rabiscos, mas principalmente, de versos inesperados. Agora, estamos à beira do último, ainda por escrever, em que o final é ainda um mistério, mas que dá tanto sabor à história. 

O bilhete de ida que segurávamos no início era a única certeza, e talvez fosse a ausência da volta que nos ensinou a crescer, a criar raízes e a estar prontos para ir em direção ao desconhecido. 

Hoje, o peso do que está por vir mistura-se com a leveza dos sorrisos que, sem pressa, se desenham no rosto. Sorrisos sinceros e o brilho nos olhos de quem sabe que viveu intensamente, que carrega às costas bagagens cheias de momentos e histórias, e de quem soube apreciar a paisagem ao longo da viagem, mesmo em dias de tempestade.

E ao fecharmos a página deste capítulo, ao guardar o velho bilhete usado e, embora ainda não tenhamos escrito a história toda, há a certeza de que a viagem ainda guarda surpresas. O vento que sopra já não é o mesmo de quando embarcamos. Hoje, ele traz consigo uma saudade antecipada e a coragem de seguir sempre em frente até ao fim desta viagem.