Porque a Floresta existe 365 dias por ano…
“Se a sociedade portuguesa quer resolver os problemas da Floresta tem que manter a Engenharia Florestal”.
| por: Bruno Fernandes e Helena Margarida
A Floresta em Portugal pertence, na sua maioria, a privados. Ocupa 1/3 da área do país e, se lhe somarmos as áreas de pastagem e de mato perfazemos 2/3 do território. Números que revelam a importância da Floresta no todo nacional.
Luís Lopes, diretor da licenciatura em Engenharia Florestal da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro diz que a Floresta “é muito produto dos políticos e das decisões dos homens” e acrescenta que “se a sociedade portuguesa quer resolver os problemas da Floresta tem que mudar de rumo” para que ano após ano o país deixe de ser “devorado” pelos incêndios. Neste sentido, “os académicos deviam ser levados mais em conta”, defende.
Portugal é o país do sul da Europa que mais floresta tem perdido nos últimos anos. É o que menos investe na reflorestação do seu território. Luís Lopes questiona: “se já cuidamos tão mal a que temos, quereremos mais?”. Defende que que “há que cuidar melhor da que existe” até porque, segundo o docente “corremos o risco de colocar em causa a sustentabilidade das florestas”.
No foco da discussão dos últimos tempos estão os eucaliptais que “devem ser pensados num aumento de produtividade e não de expansão das suas áreas”. O especialista deixa o alerta para o risco que são as monoculturas, “a floresta precisa de mais diversidade”.
No entender do diretor do curso de Engenharia Florestal da UTAD o ordenamento ideal para o território seria conciliar os aspetos económicos com os ambientais e sociais. Um papel que devia ser atribuído aos proprietários das terras.
A lei obriga à limpeza dos terrenos, mas, ano após ano, os incumprimentos são visíveis. Nesta matéria que se transforma em rastilho para os fogos florestais, nem privados nem o próprio estado cumprem a legislação.
A prevenção é sempre o melhor remédio, como tal, cuidar da Floresta devia ser uma prática para os 365 dias do ano e não apenas quando se chaga à chamada época dos incêndios. Ter agentes no terreno a fazer toda essa monotorização de salvaguarda seria uma “mais valia”.
Trás-os-Montes e Alto Douro tem uma das maiores manchas de pinheiro do país que poderia ser mais bem salvaguardada se a região tivesse “mais autonomia” para assumir a sua gestão. Luís Lopes considera que um dos graves problemas da floresta “é a sua centralidade em Lisboa e as políticas serem nacionais”. E aponta a regionalização como um dos caminhos para uma intervenção mais eficaz nas Florestas.
O docente da UTAD considera cada vez mais importante a manutenção do curso e diz-se triste por não se valorizar a Engenharia Florestal “que cada vez faz mais sentido a nível nacional”. Reforça a importância do papel dos engenheiros florestais lembrando a sociedade portuguesa de que “se quer resolver os problemas da floresta tem que manter a engenharia florestal”. O desafio que deixa aos jovens é que se lembrem que são eles têm a responsabilidade de mudar o futuro e que na UTAD o curso de Engenharia Florestal tem 40 anos, “dá garantias do seu passado (…) tem história e a história dá-nos seguranças, dá-nos raízes”.