Na segunda-feira, a Universidade Trás-os-Montes e Alto Douro recebeu a aula inaugural com o David Marçal. Ele tem um doutoramento em bioquímica pela Universidade Nova de Lisboa desde 2008, e escreveu vários livros, como “Darwin aos tiros e outras histórias de ciência“, “Pipocas com telemóvel e outras histórias de falsa ciência“, “A ciência e os seus inimigos“, “Apanhados pelo vírus“, “Pseudociência“, “Cientistas portugueses” e “Como perder amigos rapidamente e aborrecer as pessoas com factos e ciência“. Também trabalhou como cientista júnior na HOVIONE e como investigador em bioquímica estrutural no Instituto de Tecnologia Química e Biológica da Universidade Nova de Lisboa. Foi autor do “Inimigo Público” do jornal Público, redator da revista Culto e jornalista de ciência no jornal Público. Em 2010, ganhou um prémio químico para jovens e o prémio ideias verdes. Em 2014, ganhou o prémio comcept. Além disso, escreve regularmente sobre ciência no jornal Público e tem um podcast chamado “Mais lento do que a luz“, publicado de quinze em quinze dias, à segunda-feira.

David Marçal. Créditos: UTAD TV.

Durante a sessão, mostrou uma imagem de Isidoro de Sevilha (560-536), que é uma representação medieval do mundo. Nessa imagem, o mundo está dividido em três partes: os filhos de um personagem bíblico e a falta do continente americano, que na altura ainda não era conhecido. O convidado mostrou o Planisfério de Cantino (1502), que é uma carta náutica dos portugueses e espanhóis que mostra o mundo. Esta carta náutica foi roubada por um espião italiano e tem as latitudes marcadas com base em observações astronómicas. E também falou do unicórnio, que era normal naquela altura. Diziam que os supostos chifres do unicórnio eram transportados para a Europa, mas afinal eram dentes de narval. O animal mais parecido com o unicórnio foi o rinoceronte e ninguém na Europa sabia que existiam outras espécies de animais, como aquelas espécies que nunca existiram.

Isidoro de Sevilha | Planisfério de Cantino | Unicórnio | rinoceronte. Créditos: UTAD TV

O palestrante mencionou um filósofo, Karl Popper, que criou um conceito para distinguir se uma coisa é ciência ou não. Esse conceito é o critério da falsificabilidade, que diz que

uma teoria e científica e só se essa teoria falsificável, se possível mostra que ela é falsa ou refutá-la recorrendo a rigorosos testes empíricos”.

O convidado deu ainda vários exemplos de como verificar se uma afirmação é falsa ou verdadeira.

Já o juiz, William Overton, caracterizou as ciências de criação como sendo guiadas por leis naturais, explicáveis segundo as mesmas leis, verificáveis no mundo antigo, com conclusões provisórias e suscetíveis de refutação.

David Marçal definiu ciência como “as principais características da ciência, aceites pro muitas escolas de pensamento, são que esta é reprodutível, experimental, cumulativa, objetiva, preditiva e factual” Já a pseudociência, segundo o convidado, é definido como “tipo de informação ou atividade que se diz baseada em factos científicos, mas que não resulta na aplicação valida de métodos científicos”.

Referiu-se ao físico Richard Feynman, galardoado com o prémio Nobel da Física pela sua contribuição para a eletrodinâmica quântica. Neste sentido, estabeleceu uma analogia entre a pseudociência e o “culto da carga”, o qual consiste num conjunto de rituais praticados por diversas comunidades nativas das ilhas do Pacífico, que se intensificaram após o final da Segunda Guerra Mundial, com a descontinuidade das bases aéreas norte-americanas e a apreciação da presença americana pelos habitantes locais, devido à sua capacidade de fornecer bens materiais. Os habitantes procederam à construção de uma base aérea com pistas de aterragem no meio da selva. Para tal, utilizaram cocos como auscultadores e torres de controlo construídas com palmeiras. No entanto, faltava um elemento essencial: a pseudociência, que imita a estética da ciência.

“Culto à carga” Créditos: UTAD TV

Por fim, David Marçal indicou os principais argumentos utilizados na pseudociências:

  • As figuras de autoridade;
  • Linguagem aparentemente científica;
  • A tradição;
  • O que é natural é bom;
  • Mesmo que não resulte, qual é o mal?
  • Confundir testemunhos pessoais com ensaios clínicos;
  • Escolher ensaios clínicos a dedo;
  • Síndrome de novo galileu;
  • Teoria da conspiração;
  • Dizer sem afirmar;
  • A tática da controvérsia;
  • Vender ideias de senso comum como grandes inovações;
  • Regular e legislar;
  • O pensamento pós-moderno.

A sessão terminou com um debate entre os participantes, onde foram levantadas questões sobre os seus livros e as pseudociências.