Miguel Cadilhe: “Tenho afeto pelo Douro e agora o Douro retribui-me o afeto!”
O economista vai ser doutor Honoris Causa pela UTAD.
com: Helena Margarida
Miguel Cadilhe vai ser doutorado Honoris Causa, esta tarde, pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) e deu uma entrevista ao jornal Público desta sexta-feira.
O economista de 73 anos , nascido em Barcelos e com vivência na Póvoa e no Porto, diz que a relação com o Douro é “uma relação de afeto” e “um ato de alguma inteligência.
Porquê a distinção? “Tem de perguntar ao reitor”!
Miguel Cadilhe é perentório quando questionado do porquê desta atribuição: “isso tem de perguntar ao reitor da UTAD”, mas justifica ” A deliberação da UTAD refere o papel que tive na candidatura do Douro a Património Mundial.
A ideia de propor o Alto Douro Vinhateiro a Património Mundial (ADV) “não era nova”, diz o economista. Contudo, “havia uma certa impotência par levar até ao fim essa ideia”. Como, à altura, Cadilhe era presidente da fundação Rei Afonso Henriques, a instituição assumiu o papel de instrumento da candidatura à UNESCO. Para o efeito foi criada uma comissão mista, pois a fundação era hispano-portuguesa, “de especialistas de um lado e do outro que tiveram por mandato o estudo, o levantamento do melhor trecho do vale do Douro para se candidatar a Património da Humanidade”, conta Miguel Cadilhe, para acrescentar que a comissão “conclui por unanimidade que o melhor trecho do vale para essa candidatura era o ADV Português”.
Há um antes e um depois. Não é devido à classificação. (…) Passou-se a prestar muito mais atenção ao Douro.
– Miguel Cadilhe
O economista acha que que, se a classificação tivesse acontecido na segunda metade da década de 80, o encerramento da linha do Douro não teria acontecido: “Só tenho este amargo de boca: ser ministro das Finanças e não ter dito: “O ministro da Finanças encontra no Orçamento dinheiro para financiarmos já as obras da linha.”. Cadilhe considerou o encerramento da linha como “um sacrilégio”: “Se a linha fosse ali entre Lisboa e não-se-o-quê, se fosse pelo Tejo acima, eu acho que isto não teria acontecido”.
Miguel Cadilhe defende que os políticos, intelectuais e os empresários “passaram a ver o ADV, e Trás-os-Montes também, de outra perspetiva”, ressalvando a causa-efeito que se deu na “projeção dos vinhos de mesa do Douro” e no interesse que a região passou a ter em termos turísticos.
“Não tenho família no Douro. É uma relação de afeto (…)”
Contando um pouco da sua ligação à região vinhateira, Miguel Cadilhe diz que há “uma reminiscência do serviço militar, quando vou para Lamego, e depois de vir casar volto para Lamego com a minha mulher”.
Há pontes, há igrejas, há castelos, há paisagens… tudo isso me criou uma perplexidade: como é que isto está aqui esquecido?
– Miguel Cadilhe
Miguel Cadilhe mostra-se “otimista” em relação ao desenvolvimento da região: “Não é de repente que, numa região como o Douro, o rendimento per capita que é baixo passa para a média do país”. “Estou convencido que daqui a dez ou quinze anos a realidade do Alto Douro, e de Trás-os-Montes por arrastamento, vai ser muito diferente, para melhor, do que era ou do que é hoje”, diz.
“Senti-me muito honrado!”
Sobre a distinção Honoris Causa, Miguel Cadilhe diz-se “honrado”: “Lá vem o afeto novamente que eu não sei explicar muito bem”. E continua: “O reitor da UTAD faz-me um um convite que me toca em cheio e, instantaneamente, disse que sim. é isto: tenho afeto pelo Douro e agora o Douro retribui-me o afeto”, conclui.