Não só uma forma de expressão artística mas também uma critica social.

Hoje irei abordar uma curta metragem intitulada de “Louise”, que descobri não sei muito bem como, mas que me cativou imenso e acho que seria interessante e importante partilhá-la. Dirigida por Constance Bertoux, Camille Bozec, Pauline Guitton, Pauline Mauviere e Mila Monaghan esta curta metragem daria conversa para uma dissertação inteira porém tentarei ser o mais breve possível. 

Este short-film remete-nos ao século XIX, época marcada pela estratificação e hierarquização social. Nele podemos ver como uma jovem bailarina era vista pela sociedade burguesa (mais especificamente pelos homens) e as lutas constantes da sua vida. Isto acontece pois naquele tempo era normal jovens adolescentes serem vistas como troféus especialmente quando abordadas por homens de alto escalão social.

É o que acontece no filme, e a personagem principal, Louise, uma bailarina da Opera Garnier é mais uma das muitas bailarinas que para sobreviver e conseguir algum dinheiro tem que se sujeitar a ter relações sexuais com estes homens burgueses, sendo que para eles pouco importa a vontade ou não das raparigas pois eles têm o poder e elas necessitam da recompensa financeira ou social que lhes provém da prática dos atos.

Interessante denotar que para esta curta metragem, as diretoras inspiraram-se na sociedade do século XIX e em dar um ar moderno a obras de artistas como Edgar Degas, Henri de Toulouse-Lautrec ou Jean-Louis Forain. Outras grandes inspirações foram filmes como Grandmaster e House of Tolerance, fotografias como as polaroids de Tarkosvky, as bandas desenhadas de Manuele Fior e até mesmo as pinturas de Edouard Vuillard, todas elas usadas segundo as diretoras para encontrar a aparência visual ideal para este filme.

A curta-metragem em questão é altamente interessante e representa vividamente diversas situações que persistem até os dias atuais. Nela, observamos temas como o assédio que as mulheres continuam a enfrentar, apesar de todos os avanços dos últimos anos. Outra faceta intrigante deste curta-metragem é a maneira como as bailarinas se apoiam mutuamente, buscando conforto e suporte emocional.

Dentro dessa temática, é possível associar essas bailarinas a pessoas em situações precárias ou com menos oportunidades sociais e econômicas. É comum que, quando a vida coloca alguém para baixo, essa pessoa sinta a necessidade de se apoiar naqueles que compartilham ou compartilharam experiências semelhantes, valorizando pequenos gestos e momentos de conforto, assim como as bailarinas de “Louise” fazem entre si.

No decorrer desta curta-metragem, é especialmente interessante denotar como os criadores não tentaram “envelhecer” nem Louise nem as demais bailarinas. Acredito que isso tenha sido intencional, pois os meios de comunicação muitas vezes evitam abordar estas questões, referindo-se a jovens como Louise como “jovens adultas”. Neste caso, não houve hesitação, pois o objetivo era mostrar de forma inequívoca que tais comportamentos são frequentes mesmo entre raparigas muito jovens, o que apenas reforça a natureza repugnante e errônea dessas situações.

É imperativo combater esses atos, uma vez que muitas mulheres, tanto jovens quanto adultas, enfrentam diariamente situações de assédio e, em casos mais graves, de agressão sexual. Apesar de a informação estar cada vez mais acessível e ser compartilhada em ambientes educacionais desde cedo, ainda existem ações que podem ser empreendidas para promover uma mudança significativa.

Portugal ainda tem penas muito brandas para estes casos e uma das soluções que eu recomendaria é mesmo o aumento da severidade das penas pois vivemos num país onde ser bonita não é motivo de orgulho mas sim de preocupação.

Quanto a “Louise”, acho muito bom haver pessoas que se dedicam a fazer estas obras de arte que servem não só como uma forma de expressão artística, mas também como uma forma de critica social. Nota 10/10.