O desfile de alta-costura de Outono/Inverno 2000 da Dior, dirigido por John Galliano, é um marco na história da moda, não apenas pela sua estética inovadora, mas também pelas polémicas que suscitou. O desfile explorou temas como amor, cultura, religião, fetiches, sensualidade e a objetificação da mulher.

O desfile aborda um tom teatral, com a entrada de um padre que veste a batina mais glamorosa de sempre. Depois surgem os noivos, acompanhados pelos seus convidados. Inicialmente, desfilam personalidades da alta sociedade, vestidos com trajes clássicos e sofisticados. De seguida, aparecem figuras de inspiração militar, até que a atmosfera começa a mudar e a estranheza instala-se. Uma Maria Antonieta aqui, um palhaço ali, mulheres militares sensualizadas, com trajes e acessórios de fetiche, entre outros, tomam lugar na passarela. Simplesmente bizarro! Já não bastava a festa de latex, corpetes, acessórios de bondage e chicotes, a música só veio piorar a situação. O que começou com tons cerimoniais e religiosos rapidamente descambou e deu lugar a sussurros, batidas industriais e até gemidos. Desconfortável é dizer pouco! Ainda eu vi o desfile em casa, com um botão de pausa e a opção de tirar o som, já quem o viu a vivo e a cores…a vergonha alheia é real.

Apesar de tudo isto, a verdadeira polémica que levantou críticas por todo o mundo foi a apropriação cultural. Turbantes, kimonos, maquilhagem inspirada em pinturas tribais, penteados estereotipados africanos, entre outros, foram utilizados sem ligação aos seus países de origem e às suas culturas, fazendo apenas parte de um teatro exótico.

Este desfile foi, sem sombra de dúvida, memorável. Embora talvez não pelas melhores razões.