Da ilha da Madeira para a cidade de Vila Real

Jéni Gomes, aluna de Psicologia na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, veio com 17 anos estudar para a cidade de Vila Real. “Custa-me imenso chegar a casa e não ver nenhuma cara familiar ou quando tenho um dia péssimo e não tenho alguém que me de um abraço e que prometa que tudo vai correr bem e que esta ali se nós precisarmos.”, Jéni fala da sua chegada a Vila Real e de como tem passado e ultrapassado o facto de estar longe da família e não poder ir a casa quando quer. Jéni abre as portas da sua casa de Vila Real e conta a sua experiência na Universidade.

Patrícia Mendes (PM) – A Universidade Trás-os-Montes e Alto Douro (Utad) foi a sua primeira opção?
Jéni Gomes (JG) – Não. Eu sempre soube que queria estudar fora da Madeira, mas queria que fosse numa cidade mais perto de família.

PM – Como descobriu a Utad?
JG – Foi-me aconselhado quando fui fazer a candidatura para a universidade no Gabinete de Ensino Superior.

PM – O curso de psicologia foi aquilo que sempre quis seguir?
JG – Acho que, desde que me lembro, sempre me interessei pela área de saúde. Nunca achei que tivesse forte para Medicina, mas sempre me fascinei por tudo o que está relacionado com o cérebro. Eu inicialmente queria ser assistente de bordo, mas devido a problemas de saúde não posso ingressar por esse ramo.

PM –  Na Madeira não havia o seu curso?
JG – Sim, havia.

PM – Porque decidiu sair da Madeira se lá tem o curso? Foi uma decisão fácil?
JG – Não foi, de todo, uma decisão fácil. Resolvi sair porque, já que a Madeira é um meio pequeno, não existe tantas oportunidades como existe cá, alem de que os Mestrados são muito limitados.

PM – Nunca ponderou pedir transferência para a Madeira?
JG – Nunca, em nenhum momento! Por muito que sinta saudade ou por muito que seja complicado, a realidade é que gosto de Vila Real e já me habituei a estar cá.

PM – Quando chegou a Vila Real o que sentiu?
JG – Acho que a palavra “deslocado” nunca fez tanto sentido como agora. Senti-me muito apreensiva e com muita vontade de voltar para o que me era familiar.  Mas também não posso mentir e dizer que não me sentia curiosa e animada por cá estar.

PM – Para si e até agora, o que foi mais difícil por ser um estudante deslocado?
JG – Sem dúvida nenhuma o facto de estar sozinha, sem família por perto. Custa-me imenso chegar a casa e não ver nenhuma cara familiar ou quando tenho um dia péssimo e não tenho alguém que me de um abraço e que prometa que tudo vai correr bem e que esta ali se nós precisarmos. Alem de que as responsabilidades, agora, estão todas em cima dos meus ombros e por isso sinto que fui obrigada a crescer muito depressa. Eu quando vim para cá tinha 17 anos, no entanto parecia que já tinha 25 anos, sem ter tempo de me habituar a tal.

PM – A praxe ajudou a sua integração na cidade e na Utad?
JG – Não posso dizer que ajudou. A longo prazo, talvez. No inicio a praxe fez-me querer voltar para casa exatamente por eu não ter ninguém ca, por me sentir deslocada. As pessoas por muito mais que tentem, nunca conseguirão entender o que um estudante deslocado sente e passa, ate eles próprios passarem pelo mesmo. Senti muita pressão e não consegui me integrar, claro que depois de um tempo habituei-me e aí sim, posso dizer que a praxe me ajudou a integrar.

PM – Como se sente ao ver os seus colegas a ir passar o fim de semana a casa?
JG – Só me ocorre uma palavra: nostalgia. Custa muito, mas mesmo muito ver os nossos colegas irem para casa e nos termos de ficar cá sabendo que vamos ficar sozinhos. No fim de semana temos muito mais tempo em mão e é talvez quando sentimos mais saudades.

PM – Considera Vila Real a sua segunda casa?
JG – Não. Eu costumo dizer que não é o sitio que faz a casa, mas sim as pessoas. Independentemente de onde moro ou possa vir a morar, a minha casa é sempre onde a minha família está.

PM – Qual o maior período que fica longe de casa?
JG – Acho que isso é relativo. No primeiro semestre passamos, no mínimo, três meses fora de casa, e no segundo semestre passamos, no mínimo, 4 meses, isto se não formos a exame. Seja como for, a realidade é que passamos muito tempo fora de casa e isso é mau.

PM – Os seus pais reagiram bem a escolha desta universidade? Apoiam-na?
JG – Os meus pais ficaram encantados com Vila Real e, consequentemente, com a Universidade. Eles não só me apoiaram como são a razão de eu, neste momento, já estar no 2º ano de Psicologia.