Aos 70 anos, Donald Trump assume o seu primeiro cargo político

Donald Trump venceu as eleições presidenciais dos Estados Unidos da América e o que importa perceber é como um magnata sem perfil político e com uma campanha catastrófica, marcada por comentários racistas, xenófobos e sexistas, chega à liderança de um país que se quer estável. Na verdade, Trump já havia conquistado o eleitorado há muito, pois atendendo ao facto das sondagens realizadas no final de outubro pela estação televisiva CNN, 90% dos inquiridos já sabiam em que candidato iriam votar.

Este resultado poderá ser atribuído ao surgimento de uma nova classe social, que caiu em descrença no sistema político em vigor, e do qual Hillary Clinton fez parte, não embandeirando na forte campanha da comunicação social, ou o apoio de celebridades em prol da democrata. Falo de trabalhadores rurais e conservadores, que não obtêm o rendimento/subsídio adequado do estado, relegando-os para um patamar social que se estabelece entre a pobreza e a classe média.
Embora representem 4% da população americana, são eles os responsáveis pelas grandes percentagens de exportação em cereais e soja do país, para além de produzirem o suficiente de modo a abastecer o mercado interno. Estas pessoas não hesitaram em votar no partido republicano e isso notou-se nos resultados dos estados da costa oeste e tidos como rurais. Nesse lote constavam estados chave para os candidatos e para as eleições tais como Carolina do Norte, Florida e Ohio, para além de Texas, Georgia, Tenesse e Indiana.

Importa aqui perceber onde Donald Trump convenceu a comunidade americana a confiar em si, mesmo perdendo nos debates que o opôs a Hillary Clinton. Trump não costuma cumprir protocolo político e toda a sua atenção mediática provém dos negócios. Como despende muito tempo com as suas empresas, sempre dedicou pouco tempo à família, daí ter-se envolvido em vários processos de separação conjugal, esses divórcios providenciaram-lhe atenção mediática especialmente na imprensa cor-de-rosa, bem como os seus comentários ou aparições públicas, geralmente em contexto de entretenimento.

A ideia de que os meios de comunicação social enfatizaram a figura de Trump ao longo de muito tempo pode ser real e com a força das redes sociais a sua imagem não se tornou banalizada, foi alvo de análise e de constante partilha. O facto de o FBI ter desmentido por duas vezes a culpa de Clinton no caso dos emails também não contribuiu para a imagem da campanha da ex primeira-dama, tal como o colapso que sofreu e a acusação sexual em que esteve envolvido Bill Clinton. Quem soube aproveitar estes escândalos foi o milionário republicano que financiou toda a sua campanha, ao contrário de Hillary, arrecadando votos nessas questões. Trump repetiu vezes sem conta as suas ideias para o país, tantas quanto atacou a sua adversária. Para além da sua posição radical face aos onze milhões de imigrantes ilegais que habitam em solo americano, o novo presidente dos EUA compromete-se a reduzir a carga fiscal das empresas de trinta e cinco para quinze por cento. Por outro lado, as questões climatéricas estão fragilizadas com os republicanos no poder, dado que refutam qualquer assunto dessa matéria, considerando mesmo serem infundados os vários estudos realizados até então. Na verdade, o aquecimento global é delicado para os republicanos dado que a maioria dos seus políticos possuem várias empresas no setor petrolífero e na exploração mineral e natural.

O mundo esteve atento aos resultados das eleições e entre reações políticas importa frisar a abertura da Rússia em estabelecer uma melhor relação com os EUA, mas sobretudo as declarações de François Hollande, que diz termos entrado num “período de incerteza”. Essa incerteza pode estar relacionada com os movimentos políticos alternativos que começam a ganhar prepotência em países como a França, com Marie Le Pen a subir cada vez mais nas sondagens, pelo Brexit que determinou a saída do Reino Unido numa União Europeia já por si fragilizada, ou até mesmo pela queda iminente de Nicolas Maduro. Os resultados das eleições na América não traduzem a inteligência do seu povo, antes revelam a revolta pelo sistema político instaurado. Donald Trump irá agora preparar juntamente com Barack Obama o seu mandato até ao início de 2017, altura em que iniciará funções como presidente do seu país.