Barro Preto de Bisalhães a Património Cultural Imaterial da UNESCO

Decisão vai ser conhecida esta terça-feira

Preservar a tradição. Foi a partir desta permissa que a Câmara Municipal de Vila Real iniciou, há cerca de dois anos, o processo de candidatura à UNESCO pela classificação do Barro Preto de Bisalhães como Património Cultural e Imaterial que Necessita de Salvaguarda Urgente.

No dia 20 de março de 2015, a Assembleia da República saudou por unanimidade e aclamação o reconhecimento pelo Estado Português do Processo de Confeção da Louça Preta de Bisalhães como Património Cultural Imaterial manifestando o seu apoio à iniciativa da Câmara de Vila Real de apresentação da candidatura a Património Cultural Imaterial da Humanidade da UNESCO.

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Com esta classificação, o barro preto ganhará outro protagonismo e consegue garantias de apoio aos oleiros em atividade e a todos os que queiram aprender a rodar a grande roda de onde nascem peças únicas e irrepetíveis.

Gira que gira e torna a Girar

As voltas do Barro de pó a Obra de Arte

Arte secular nascida na vila de Lordelo, então aldeia, em Vila Real, desceu as encostas até à freguesia de Vila Marim e com o corgo aos pés, acabaria por crescer e desenvolver-se na freguesia de Mondrões, no lugar de Bisalhães. A terra que fica para a história como “o berço do Barro Preto”.

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Matéria que, primeiro, é pó; argila que, ancestralmente, era proveniente da telheira de Parada de Cunhos, transportada em carro de bois para o destino que lhe daria forma; um trabalho familiar onde todos participavam, cada um com suas tarefas bem definidas.

Se aos homens competiam as tarefas mais nobres, como fazer girar a roda e enfornar a louça, às mulheres estavam destinadas as tarefas mais pesadas e menos valorizadas, como sejam toda a preparação do barrro, gogar e desenhar a louça, apanhar a caruma e carqueija para o forno de cozedura.

Hoje, o Barro vem de Vilar de Nantes (Chaves) e, quando chega às oficinas, é colocado ao sol para que seque. Depois de seco é guardado. Sempre que precisam do barro, os oleiros retiram um pedaço e coloca-no num pio, onde o esmagam com o auxilio de um pico. Depois, é peneirado e misturado com água, amassado com as mãos formando beloiros. Com um par de beloiros, forma-se a “pele”, ou seja grandes pedaços de barro que se armazenam na oficina.

Mas é na roda do grande oleiro, pelas mãos hábeis e experientes dos artesãos, que a matéria começa a ganhar forma.

Uma roda baixa com “agarras” que facilitam o andamento giratório.

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É sentado num banco em forma de meia lua que o Oleiro, tendo por companhia o “agueiro”, vai humedecendo as mãos ao mesmo tempo que, com a ajuda dos “fanadouros”, pequenas talas feitas de madeira de vidoeiro, vai levantado as peças dando-lhes diversas formas.

Recorrendo a uma corda de viola ou crina de cavalo a que chama de “cega”, à qual está preso em cada extemidade um pedaço de pano, separa as peças da roda e é então que está pronta para secar e cozer a obra de arte.

Peças de louça que poderão ter destinos diferentes: louça “Churra” que não leva decoração, como sejam os afamados alguidares, cântaros ou panelas; louça “Fina” destinada mais à decoração.
É nesta fase que a mulher entra novamente no processo para gogar os “panelos”. O gogo, seixo liso do rio, é usado para alisar e desenhar os elementos que irão ornamentar as peças.

Objetos secos e decorados: é chegada a hora da sua cozedura. E se nos primeiros tempos o forno de cozer a louça, únicos no território nacional, eram semelhantes às antigas soengas, sem separação entre a câmara de combustão e a de enfornamento hoje os fornos que se encontram em uso comunitário, já possuem uma grade de ferro que separa ambas as câmaras. Contudo, todo o processo de cozedura se mantém inalterado. Grandes temperaturas são atingidas que, “abafada” e alimentada por caruma e carqueija nas entranhas da terra, vai conferir às peças através da concentração do fumo, a sua essência.

A alma do Barro. A tradição. A cor preta.

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