Lamento, mas esquecemo-nos de discutir o tema; esquecemo-nos de discutir as pessoas!

Apesar de, no exercício das minhas funções dentro da UTAD TV, pedir aos meus colegas que escrevam “títulos apelativos” para os seus artigos, este texto não pode ter um título dessa forma.

Nem conseguiria.

O “Especial – Despovoamento”, emitido na passada segunda-feira à noite na RTP, foi tudo… menos um debate sobre o tema que encheu o grande auditório do Teatro de Vila Real. Falou-se sobre “recursos endógenos”, “fundos de coesão”, “pactos”, “sermos empreendedores”… mas pouco se falou das razões de as pessoas estarem a sair do chamado “interior” para o chamado “litoral”.

Na minha experiência no jornalismo, cruzei-me com alguém que dizia “que só mostramos os casos sexy” do empreendedorismo. Foi o que se fez nessa espécie de “montra” encapotada de informação: “casos de sucesso” no Interior do país.

Que bom! Que alegria! Que regozijo!

“Temos de ser empreendedores: temos de acreditar na região! Temos de criar as nossas oportunidades”, dizia um empreendedor.

“O Douro é um rio de oportunidades!”, dizia outra.

Esquecemo-nos, no entanto, das taxas de desemprego, do pouco investimento público no interior, da retirada de serviços úteis às populações ou dos transportes.

“Vila Real está a uma hora de um aeroporto internacional”, dizia o presidente da Câmara. E depois? Estamos a falar do despovoamento de uma faixa de território que vai do norte ao sul do país, de uma área que vai perder cada vez mais pessoas, que tem aldeias à venda. Lamento, mas se o Douro é um “rio de oportunidades” não está a sê-lo para as famílias que vão para o litoral à procura de um emprego para sobreviver.

Lamento, mas esquecemo-nos de discutir o tema; esquecemo-nos de discutir as pessoas!